ATA DA TRIGÉSIMA QUINTA SESSÃO SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA TERCEIRA LEGISLATURA, EM 04-11-2003.

 


Aos quatro dias do mês de novembro de dois mil e três, reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às quinze horas e vinte e um minutos, constatada a existência de quórum, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada à entrega do Prêmio Literário Érico Veríssimo ao dramaturgo Ivo Bender, nos termos do Projeto de Resolução nº 048/03 (Processo nº 2414/03), de autoria da Vereadora Margarete Moraes. Compuseram a MESA: o Vereador Elói Guimarães, 1º Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, presidindo os trabalhos; o escritor Luis Fernando Verissimo; o Senhor Geraldo Huff, Presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro; a Senhora Dóris de Oliveira, representante da Secretaria Municipal da Cultura; o Senhor Ivo Bender, Homenageado; a Vereadora Margarete Moraes, na ocasião, Secretária “ad hoc”. Ainda, como extensão da Mesa, foram registradas as presenças do Senhor Francisco Riopardense de Macedo, do Senhor Carlos Todeschini, Diretor-Geral do Departamento Municipal de Água e Esgotos - DMAE, e do jornalista Walter Galvani. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução do Hino Nacional e, após, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. A Vereadora Margarete Moraes, em nome das Bancadas do PT e do PP, historiando a trajetória do escritor Ivo Bender, reportou-se à importância da obra do Homenageado, baseada na observação do comportamento humano contemporâneo. Ainda, em homenagem ao escritor Ivo Bender, leu o poema “A Flor e a Náusea”, de autoria do poeta Carlos Drummond de Andrade. Em seguida, o Senhor Presidente convidou o jornalista Walter Galvani a integrar a Mesa dos trabalhos e, após, foi dada continuidade às manifestações dos Senhores Vereadores. O Vereador Reginaldo Pujol, em nome da Bancada do PFL, parabenizou a Vereadora Margarete Moraes pela proposição da presente homenagem e destacou a qualidade dos textos produzidos pelo escritor Ivo Bender, ressaltando, particularmente, as habilidades como teatrólogo e a capacidade de inquietar o espectador, contida nos trabalhos produzidos pelo Homenageado. Na ocasião, o Senhor Presidente registrou o recebimento de correspondências alusivas à presente solenidade, enviadas pelo escritor José Eduardo Degrazia e pelo Senhor Antônio Carlos Grassi, Presidente da Fundação Nacional de Arte – FUNARTE – e, após, foi dada continuidade às manifestações dos Senhores Vereadores. O Vereador Cláudio Sebenelo, em nome da Bancada do PSDB, relatando seu apreço pelos temas literários, analisou a obra produzida pelo escritor Ivo Bender, calcada no exame das relações humanas. Igualmente, sublinhou a relevância da produção teatral brasileira e, nesse contexto, inseriu a figura do Homenageado, cujo talento na área da dramaturgia, segundo Sua Excelência, espelha os arquétipos da sociedade. A seguir, o Senhor Presidente convidou a Vereadora Margarete Moraes a proceder à entrega do Prêmio Literário Érico Veríssimo ao escritor Ivo Bender e, após, concedeu a palavra a Sua Senhoria, que agradeceu o Prêmio recebido. A seguir, o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem a execução do Hino Rio-Grandense e, nada mais havendo a tratar, agradeceu a presença de todos e declarou encerrados os trabalhos às dezesseis horas e quinze minutos, convidando os presentes para a Sessão Solene a ser realizada a seguir. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Elói Guimarães e secretariados pela Vereadora Margarete Moraes, como Secretária "ad hoc". Do que eu, Margarete Moraes, Secretária "ad hoc", determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pela Senhora 1ª Secretária e pelo Senhor Presidente.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Elói Guimarães): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene destinada a outorgar o Prêmio Literário Érico Veríssimo ao dramaturgo Ivo Bender. Compõem a Mesa o homenageado, o Sr. Luis Fernando Verissimo, filho do professor e emérito, grande Érico Veríssimo; o Presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro, Sr. Geraldo Huff; e a Sra. Dóris de Oliveira, que é Subsecretária de Cultura e que neste ato representa o Sr. Prefeito Municipal. Também queremos anunciar, como partes integrantes da Mesa o Professor Riopardense de Macedo e o Sr. Carlos Todeschini, que é Diretor do DMAE. Queremos saudar os Vereadores presentes, a autora da presente proposição, que à unanimidade, escolheu o dramaturgo Ivo Bender - a Ver.ª Margarete Moraes -, o Ver. Reginaldo Pujol e o Ver. Cláudio Sebenelo.

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.

 

(Ouve-se o Hino Nacional.)

 

A ex-Secretária de Cultura do Município de Porto Alegre, Ver.ª Margarete Moraes, proponente desta Sessão Solene, está com a palavra e falará em nome do PT e também em nome do PP.

 

A SRA. MARGARETE MORAES: Exmo. Sr. Presidente dos trabalhos, Ver. Elói Guimarães, Srs. Vereadores e Sras. Vereadoras, senhor homenageado, dramaturgo Ivo Bender, razão principal deste encontro; escritor, amigo, Luis Fernando Verissimo; Sr. Presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro, Geraldo Huff; querida companheira Dóris de Oliveira, Subsecretária da Cultura de Porto Alegre, neste ato representando o Prefeito João Verle. Hoje me sinto cheia de razão, porque em meio ao maior evento cultural da América Latina, a Feira do Livro, o Presidente da Câmara Rio-Grandense nos prestigia neste momento, e por ser homenageado merecidamente o escritor e jornalista Walter Galvani. Eu subo a esta tribuna para proceder à entrega do Prêmio Literário Érico Veríssimo ao poeta, dramaturgo, professor Ivo Bender, com o apoio de todos os Vereadores e de todas as Vereadoras desta Casa, simbolizados aqui na presença dos Vereadores Reginaldo Pujol e Cláudio Sebenelo.

Ivo Bender, seja como professor, tradutor, poeta ou dramaturgo, não importa o aspecto da sua criação, é um notável escritor e pensador que já tem um legado à cultura brasileira e que, segundo a professora e doutora Léa Massina, só é similar ao gaúcho Qorpo Santo, ao Nélson Rodrigues e ao Ariano Suassuna. Inspirado no teatro clássico, com muito método e muito rigor, Ivo Bender observa o comportamento humano contemporâneo, e é daí que sai a sua criação, que pode ser referida, entre tantas outras, a partir de 1961, com a obra “Cartas Marcadas”, que foi encenada, na época, para adultos e para crianças; em 1972, “Quem roubou meu Anabela”; em 1976, “Queridíssimo Canalha” - e aqui eu queria fazer uma referência: exatamente nesta semana do dia 09, essa peça terá uma nova montagem no Teatro Bruno Kiefer, desta vez da responsabilidade da Graça Nunes; em 1978, “Sexta-Feira das Paixões”; em 1981, “O Cabaré de Maria Elefante”; em 1987, “O Macaco e a Velha” - essa encenada na Ópera de Indianápolis, nos Estados Unidos, e também radiofonizada na Alemanha; em 1988, inicia “Trilogia Perversa”, cuja essência foi tão bem captada pelo diretor Décio Antunes, aqui presente; em 1998 nós poderíamos nos referir ao “Boi dos Chifres de Ouro”, também com direção de Camilo de Lélis, quero dizer que, com muita alegria, o Grupo Ver para Crer, do Colégio Israelita, vai apresentar essa peça, em sua homenagem, precisamente no dia 07, às 15h30, nesta Casa, sob a coordenação da Diretora Heloísa Palaoro. Gostaria de convidá-los e dizer que esse trabalho conta com o apoio do gabinete do Ver. Reginaldo Pujol.

Em 2000 temos essa nova produção: “Mulheres Mix”.

Dentre tantas outras traduções, Ivo, queremos citar “Fedra, Ifigênia e Tebaida”, e “Os Irmãos Inimigos”, de Racine.

Em todas essas múltiplas situações, até pelo inusitado desses títulos agora referidos, poderia dizer que viceja a magia milenar do teatro, sempre insubmissa, mas, no caso, insubmissa ao mundo hipercompetitivo e utilitário dos nossos dias, onde o autor, livre de qualquer forma de preconceito, apodera-se do seu próprio destino. O domínio do pensamento cênico, de suas ricas vertentes, deixa Ivo Bender à vontade para desvendar e também para propor e instigar outros enigmas à nossa humanidade, quais sejam: a vida, a morte, as pessoas, as quimeras, os sonhos, os desejos - e por que não, também? -, as complexas versões do erotismo na pele de Lúcia, personagem de “Mulheres Mix”, quando ela pergunta: “E que diferença faz o sexo de Deus?”

Situações grotescas, desesperança, denúncia, ódios, maldades, no entanto sempre vêm acompanhadas de encantamento, sedutora delicadeza, virtudes, esperança e amor.

É que Ivo Bender curte bem a sucedida liberdade, escancarando, sem nenhuma trava, sua visão extremamente apurada da vida, daqueles que buscam o bom, o bem e o belo, porque vêem grandeza nas coisas singelas, nas coisas simples, naquilo que é a essência da existência.

Entre o mundo deslumbrante de um brechó na Rua da Praia, na vida como ela é e o mundo sagrado, ritualístico e alegórico dos deuses, o leitor ou espectador vai ampliando horizontes e compreendendo a infinita permanência da literatura e do teatro e assim também consegue conferir sentido à vida.

Portanto, Sr. Presidente Ver. Elói Guimarães, querido amigo Ivo Bender, em plena Feira do Livro, que no domingo contou com o autógrafo do seu homenageado, do seu Patrono, o jornalista Walter Galvani, o estímulo ao gosto pela leitura e pela escrita florescem em Porto Alegre com as flores da primavera, e a nossa Cidade fica mais sensível, mais inteligente, mais humana. Portanto, extremamente honrada com a presença de tantas personalidades do mundo das artes e das letras, eu preciso repetir mais uma vez que eu me sinto muito orgulhosa, plena de razões; e peço licença para falar em nome dos seus alunos, dos seus amigos, dos seus colegas de universidade, dos seus leitores, dos seus admiradores, dos seus colegas do Conselho Estadual da Cultura, aqui presentes, como é o caso do Maturino e do José Francisco. Assim como Platão, que relaciona o bem ao sol, que além de conferir luz e visibilidade aos objetos, às coisas, o sol oferece a chance de serem gerados, de crescerem, de se nutrirem, Ivo Bender oferece sobretudo a aventura da troca da descoberta no mundo da imaginação e do sonho, do afeto e da amizade.

Eu queria concluir com um poema, um pedaço de um poema do Carlos Drummond de Andrade, que diz o seguinte (Lê.):

“A flor e a náusea

Uma flor nasceu na rua/ Uma flor ainda desbotada/ ilude a polícia, rompe o asfalto/Façam completo silêncio/ paralisem os negócios/

garanto que uma flor nasceu/ É feia, mas é uma flor./ Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio”.

Receba, pois, professor Ivo Bender, o reconhecimento, o carinho, o respeito e o aplauso de nossa Cidade. Registro que esta homenagem, agora, conta, neste momento, com a presença do nosso querido Walter Galvani. Muito obrigada. (Palmas.)

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE (Elói Guimarães): Eu vou solicitar que o escritor Walter Galvani, Patrono da Feira do Livro, integre a nossa Mesa de trabalho.

Dando seqüência às manifestações dos Srs. Vereadores, passamos a palavra à Bancada do PFL, na pessoa do seu Líder, o Ver. Reginaldo Pujol, que tem à sua disposição o tempo regimental.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Indiscutivelmente, Sr. Presidente, esta Casa se alterou muito de uns tempos até esta data. E eu diria, sem nenhuma sombra de dúvida, que V. Exa., Ver.ª Margarete Moraes, é a responsável direta por essa transformação. Não fosse a inspiração de V. Exa., nós não estaríamos hoje aqui, com toda a justiça, destacando o trabalho exemplar feito por essa figura notável das Artes e das Letras do Estado do Rio Grande do Sul.

Os milagres promovidos pela presença da Ver.ª Margarete Moraes nesta Casa refletiram até no meu gabinete e na minha equipe de trabalho. Eu não sabia, até há bem pouco tempo, que um competente assistente, o qual faz parte da minha equipe de trabalho, era também - agora é uma revelação -, um homem voltado para as Letras e para as Artes. E ele, Ricardo Faertes, foi quem me traduziu, Ver.ª Margarete Moraes, as primeiras informações a respeito do nosso homenageado - que para mim não era nenhum desconhecido - figura física reconhecida no Município de Porto Alegre, grande colaborador da embrionária Secretaria de Cultura, ou seja, do Departamento de Cultura. Eu bem me lembro daquelas épocas em que, junto com o Luiz Antonio de Assis Brasil, trabalhávamos em conjunto no Município de Porto Alegre. Mas como tudo na vida tem um começo, é em 1961 que esse estalo se realiza, quando pediram ao Ivo Bender que escrevesse um texto curto, bem curtinho, para ser encenado na universidade. O que à época era apenas um desafio, tornou-se, segundo o próprio autor, um hábito, como o cigarro o é para o sujeito que fuma - e eu sou um tabagista, conheço os hábitos. Essas palavras do próprio autor nos refletem uma situação nova, eis que aí está nascendo um texto intitulado “As Cartas Marcadas” ou “Os Assassinos”, que mais tarde comporiam, com outras comédias curtas, a primeira tríade denominada “Pequeno Oratório Lúdico de Aspérula”. E assim - agora são minhas as palavras - nasce, no Rio Grande do Sul, um genuíno autor de teatro.

Daí em diante, tal como uma máquina criativa, Ivo Bender não parou mais. Enfrentando as dificuldades político-sociais que a vida impunha, mormente a um dramaturgo jovem com talento e gana inigualáveis, Ivo Bender soube driblar os anos de chumbo escrevendo textos que sutilmente definia como sendo o “teatro do absurdo”, mas que tinham como objetivo a denúncia sutil e incansável - fato que se constituía em sua reação poderosa ao regime e que possibilitava a sua continuidade como brilhante produtor de textos teatrais em uma situação tão adversa como aquela em que se vivia.

Jamais, jamais mesmo, parou de produzir, e aí surge uma marca desse autor: a versatilidade dos textos e a qualidade com que envereda por outros estilos variados. Essa é outra característica muito sua: a inquietude e a constante necessidade de demonstrar a todos, por meio de seus textos agudos em denúncia e informação, o que se passa em nossa sociedade, as mazelas a que está exposto o povo brasileiro. Com seu trabalho consegue a magia rara de inquietar e revolver o mundo interior do espectador.

E assim como este País muda de ares, respira outras perspectivas - boas e más -, segue esse talento criativo a denunciar o bom e o ruim de forma incansável, dando ao teatro e a seus aficionados a real dimensão de seu valor, visto que seus textos são sempre muito conseqüentes e denunciadores de um momento e de uma realidade social.

Prova de sua versatilidade e inquietude criativa é também a fase em que desmistificou, de forma inteligente, as correntes tradicionais sobre as raízes dos sul-rio-grandenses, com textos mais adaptados à realidade gaúcha, em que se destaca “O Boi dos Chifres de Ouro”. Essa comédia, Ver.ª Margarete Moraes, vem sendo encenada com sucesso, hoje em dia, em colégios, o que dá conta da sua atualidade e denota o valor desse autor, uma vez que tem possibilitado que, dentro da sala de aula, o teatro flua como uma disciplina formadora de caráter e como ferramenta de integração entre os jovens de forma a se poder dizer, neste momento, que isso vale; vale e vale muito. Não nos dá simplesmente uma visão elitista da situação, ao contrário, nos dá uma real idéia da importância desse autor para a sociedade em que estamos inseridos.

Há ainda outras nuanças a destacar sobre o Ivo Bender, como, por exemplo, sua vertente vinculada ao teatro infantil, obras que agradam a crianças e adultos, como “Auto das Várias Gentes no Dia de Natal” e “O Macaco e a Velha”, os quais, como é dito por críticos renomados, são textos verdadeiramente geniais.

Há, contudo, um outro livro do Bender, “O Professor”. Segundo palavras do nosso ex-colega e atual Vice-Governador do Estado, Antonio Hohlfeldt, que, antes de ser Vice-Governador, é, também, um qualificadíssimo crítico de artes: “Ivo Bender é um professor que aprendi a admirar, que prende a atenção do aluno falando de sua própria experiência teatral, que não se limita a repetir dados, mas transmite o teatro como aquela matéria viva que ele é essencialmente. É que, para ele, o teatro se encontra em tudo, em todos e a todo e qualquer momento. “Quer melhor prova” - perguntava Antonio Hohlfeldt – “disso do que sua própria experiência, meu caro Bender?” Ora, vindo de quem esses comentários vêm, poderiam ser definitivos, e, por si só, bastariam para fechar este breve pronunciamento feito com o descompromisso de quem respeita muito o autor, respeita muito o dramaturgo, mas, sobretudo, respeita muito o cidadão. Mas ainda há alguma coisa a ser dita, e é importante, é imperioso que isso seja dito. Ao referir-me a sua feliz iniciativa, Ver.ª Margarete Moraes, que rara oportunidade V. Exa. nos traz e nos proporciona no dia de hoje. Esta Casa, o público presente, extremamente seleto, e também os telespectadores da nossa TVCâmara, sentem-se engrandecidos por sua perspicácia e, por que não dizer, talento, uma vez que nos trouxe e possibilitou conhecer uma personalidade das artes, esse gênio criativo chamado Ivo Bender, um permanente colaborador da cultura porto-alegrense, com fertilíssima atuação na Divisão de Cultura do Município e grande colaborador do “Porto Alegre em Cena”, que tem a sua marca e que provavelmente solidifica essa unidade entre a inspiração e a criação, representada na homenagem que hoje lhe é proporcionada.

Por fim, e não por derradeiro, eu quero dar os parabéns, de um lado, à Ver.ª Margarete Moraes, e a você, Ivo Bender. Acho que falo pelo povo da nossa Cidade, pelo povo que lhe quer bem, pelo povo que lhe respeita, que admira o seu trabalho. Meu sincero reconhecimento pela inigualável trajetória, por seu trabalho conseqüente e fecundo, mas, sobretudo, pela coerência das suas atitudes. Meus cumprimentos e muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Elói Guimarães): Queremos registrar uma correspondência encaminhada pelo escritor José Eduardo Degrazia, parabenizando a indicação, por parte da Ver.ª Margarete Moraes, ao homenageado Ivo Bender. Por igual, do escritor Antônio Grassi, Presidente da FUNARTE, que cumprimenta V. Exa. pela lembrança e oportuna iniciativa.

O Ver. Cláudio Sebenelo - que hoje, pelo que me consta, estará também lançando um trabalho na Feira do Livro - está com a palavra.

 

O SR. CLÁUDIO SEBENELO: Sr. Presidente, Sras. Vereadoras e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Nesta tarde primorosa para nós - pela presença de Ivo Bender e por esta Mesa tão importante -, Walter Galvani, nós que vivemos no Estado que tem o Minuano, esse Minuano que impede a poluição das nossa cidades na idade do automóvel. E eu tenho a ousadia, pela primeira vez, já depois de velho, de lançar um livro de poesias que se chama “Porto Alegre, vento e rio”, evidentemente, por causa do rio, por causa do vento, e por Porto Alegre - esta mulher linda, esta Cidade encantadora!

Professor Ivo Bender, eu pediria desculpas por não falar do grande vulto que o senhor é, e começar falando pelo Prêmio que o senhor está recebendo. Se eu cometer algumas inconfidências, quero ser o mais exato possível. Na casa de uma grande amiga em comum nossa, Helena Ibañez, reuniam-se 40, 50, 60 pessoas; apertávamo-nos um pouco, porque era no living da sua casa que nós ouvíamos grandes palestrantes. Entre eles - um dos maiores conferencistas da história deste Rio Grande, que agora não pode ser mais conferencista - , mas que sempre foi a sedução da palavra por ele usada de forma magistral -, chamava-se professor Mozart Pereira Soares. E o professor Mozart anunciou uma conferência sobre Geologia do Rio Grande do Sul. Quando a minha mulher me disse que nós íamos participar de uma conferência sobre geologia, eu morri de rir, porque realmente não há tempo mais pétreo ou mais árido, geológico e pré-histórico. Nada disso! Nós ficamos, de uma palestra de 1 hora, 4 horas conversando sobre o assunto. Maravilhoso! E o assunto quase sempre andava, virava e mexia - nós caíamos em Érico Veríssimo, em O Tempo e o Vento. E o vento fazia parte da saga de Ana Terra. Ana havia nascido num dia de vento, o seu primeiro filho nasceu num dia de vento e o primeiro amor dela, quando o coração bateu mais forte, pela primeira vez, foi na Feira de Sorocaba e era uma ventania incrível.

E O Tempo e o Vento nasce com as pessoas que acompanham essa saga, como Mozart Pereira Soares descrevia. E nas confidências de longas tardes de conversas em Torres, com a Mafalda, ela dizia que Érico Veríssimo tinha pesquisado, muito, a história do Rio Grande do Sul. Não é numa inspiração quase poética que instantaneamente se faz uma trilogia. Mas se algum compromisso existe com a verdade e com a ficção, a verdade muitas vezes vai muito além da ficção.

E é esse gigantesco escritor brasileiro, que outro dia eu ouvia numa emissora alternativa, Ver.ª Margarete Moraes, um dos maiores críticos literários do País, Vilton Martins, falar sobre Érico Veríssimo. E a critica severa, extremamente polêmica dele, põe Érico Veríssimo como o maior escritor do Brasil de todos os tempos. E nós temos a felicidade de instituir aqui um Prêmio Érico Veríssimo às pessoas que se destacam nas letras.

O meu encanto maior é que o Professor Ivo Bender instala seus conhecimentos na solidez pétrea da mitologia grega, lá no início do extraordinário exame das relações humanas. Ninguém conhecia psiquiatria e o Édipo já fazia das suas. Ninguém conhecia psicanálise e Miguel de Cervantes Saavedra já nos dava o esquizofrênico paranóide e o maníaco depressivo - Dom Quixote e o Sancho Pança. Realmente eu vejo essa sedução da dramaturgia, quando, às vezes, eu fico desconfiado de que o Jorge Amado copiou um pouco de Friedrich Dürrenmatt, de “A Visita da Velha Senhora”, em “Tieta do Agreste”. “A Visita da Velha Senhora”, no cinema, foi representada por Ingrid Bergmann e Anthony Queen, e, no teatro, aqui, por Cacilda Becker. Quantas pessoas conhecem essa peça em que “A Visita da Velha Senhora” é a visita da consciência de cada um de nós.

O autor, o dramaturgo passa a se inserir, com extrema capacidade, nas suas épocas, inserções que nos dão idéia da evolução do ser humano. Muitas vezes, com a regressão às idades anteriores, como nós muitas vezes fazemos na política, na barbárie, nas guerras, nós temos uma medida da pequenez e da extrema grandiosidade dos seres humanos. Pois são com essas ambigüidades, com essas mensagens duplas, com essa profunda confusão das cidades, com a placidez dos campos, que lida o dramaturgo. E os reis, enfurecidos por perderem o seu poder, mandam prender - cuidado, Professor Ivo Bender! - os irônicos, os sátiros, os chargistas. Aqui em Porto Alegre, uma vez, mandaram prender esse senhor chamado Bertold Brecht, porque tinha ousado, numa peça sua, atentar contra os ditames, de cima para baixo, que impunham à sociedade um pensamento único. O Stanislaw Ponte Preta, no seu fantástico e inesquecível "Febeapá", registra isso como um dos marcos do nosso autoritarismo. E o português, que é uma língua que não tem grande intimidade com os dramaturgos - eu não sei se há muitos dramaturgos da língua portuguesa, mas eu acho que Gil Vicente é o primeiro e grande deles, eles fazem as pazes, a dramaturgia e a língua, muito recentemente, como disse a nossa Vereadora, falando de Ariano Suassuna, em “O Auto da Compadecida”, que é uma ironia pura, e, também, de Nelson Rodrigues, que convulsiona as nossas mentes com as relações familiares tão promíscuas e tão deturpadas e que, depois, com o tempo, passam a ser aceitas, reconhecidas e, se necessário, rejeitadas.

Por isso, nós saudamos essa inserção no tempo da dramaturgia. Eu sei, Prof. Ivo, que de uma peça de um grande médico e dramaturgo russo, Anton Tchekhov, ele tem uma peça que se chama “Titio Joãozinho” – chama-se “Tia Vânia” -, a peça inicia-se com duas velhinhas tomando chá, na Rússia, no início do século, e uma delas disse para a outra: “Tem alguma coisa no ar mostrando que alguma coisa na Rússia vai mudar.” E era o fim do czarismo. E essas inserções são do inconsciente coletivo, elas não são de uma pessoa. Elas são abstrações. As pessoas não têm a certeza disso, mas têm a percepção, têm a entrelinha, têm o inconsciente.

E é por isso que é muito recentemente a experiência teatral brasileira, e muito pequena ainda. Nós não tínhamos mercado, inclusive, para o desenvolvimento do teatro no Brasil, e o teatro brasileiro de comédia começou na segunda metade do século passado. É muito recente, porque antes era só circo de cavalinhos e teatro de vaudeville, não existia o teatro rebolado, não existia o teatro formal. Hoje, nós temos esse desenvolvimento teatral, essa questão cênica de arte. E arte, indiscutivelmente, Ver.ª Margarete, é o belo, e é esse belo que nós perseguimos diariamente. E o belo, indiscutivelmente, é a arte.

Hoje, e muitas vezes, nós vimos teatro cinematografado e nós vimos o teatro televisionado. De qualquer forma, o bom é ter teatro; o bom é ter dramaturgos, coisa rara na nossa língua.

O poder do dramaturgo espelha o poder de uma sociedade, e a sua metamorfose em épocas cada vez melhores, e o acompanhamento da evolução do teatro é o acompanhamento da evolução do ser humano. Principalmente, o teatro e os dramaturgos são os responsáveis, também, pela melhora das relações humanas de que tanto nós precisamos. São os incentivadores, são os renovadores dos arquétipos que, para nós, seres humanos do início deste terceiro milênio temos de melhorar muito, temos de melhorar demais. E nós precisaríamos, para essa melhora, de muitos “Ivos Bender”. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Elói Guimarães): Convidamos a Ver.ª Margarete Moraes a proceder à entrega do Prêmio Literário Érico Veríssimo ao dramaturgo Ivo Bender.

(Procede-se à entrega do Prêmio.) (Palmas.)

 

O dramaturgo Ivo Bender, o homenageado desta Sessão, está com a palavra.

 

O SR. IVO BENDER: Eu sou um péssimo discursador e depois, pelas manifestações ouvidas aqui, mesmo que eu fosse um brilhante orador, eu não teria coragem de dizer alguma coisa. Por isso, eu vou apenas agradecer pela homenagem. Agradeço à Câmara Municipal de Porto Alegre e, especialmente, à Ver.ª Margarete Moraes, minha amiga, que me concederam este Prêmio que me deixa extremamente feliz, muito honrado e muito contente, basicamente, porque isso acontece em Porto Alegre que é, digamos assim, a Cidade cujo idioma eu domino e onde está o meu público. O meu público eu sempre considero enraizado em Porto Alegre, depois eu o expando para o interior do Rio Grande do Sul e com uma certa cautela eu subo para Santa Catarina, Paraná e São Paulo, mais adiante é terreno desconhecido para mim, eu não domino o idioma do Rio de Janeiro para cima, então eu tenho que ficar nesse espaço cujo idioma eu domino razoavelmente bem.

Agradeço à Câmara e à Ver.ª Margarete Moraes. Agradeço também, porque se não eu nunca teria recebido este Prêmio, estaria adormecido em gavetas por aí, a todos os diretores de teatro, a todas as atrizes – e ali há uma que trabalhou num texto meu, chamado “Surpresa de Verão”, que eu escrevi em apoio a uma greve na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, há alguns anos, acho que foi em 1988 -, aos encenadores, aos produtores, às atrizes, aos atores, aos cenógrafos, aos figurinistas e até às costureiras que, no silêncio de seus ateliês, ficam fazendo a roupa das minhas personagens; agradeço, também, aos meus amigos que suportam, toleram o meu silêncio e a minha ausência quando estou dentro de uma crise criativa, como eu digo, porque daí me “fecho em copas”, fico em casa, mal consigo atender o telefone. E, finalmente, agradeço ao povo de Porto Alegre, que identifico como o meu público preferencial e que é o público que tem me apoiado, desde 1961, e tem estado presente neste trajeto que estou percorrendo.

Então, a todo esse universo, a todas essas pessoas, à Câmara Municipal, a todos que discursaram, a minha amiga Ver.ª Margarete Moraes, o meu muitíssimo obrigado! Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Elói Guimarães): “Por isso, na impaciência desta sede de saber, como as aves dos desertos, as almas buscam beber! Oh bendito, quem semeia livros, livros a mancheia, e manda o povo pensar! O livro caindo n’alma é germe que faz a palma! É chuva que faz o mar!” De Castro Alves, “O Livro e a América”.

Estamos nos encaminhado, Galvani, nosso Patrono, para o encerramento desta solenidade, onde a Casa, o povo de Porto Alegre teve a oportunidade de resgatar, Ver.ª Margarete Moraes, a figura extraordinária de Ivo Bender.

Estamos num grande momento da Cidade, que é a Feira do Livro, até diria, com a permissão de todos, que nós nos transformamos aqui na Capital brasileira da arte do livro, enfim, na Capital Latino Americana do Livro, tal o momento em que vivemos aqui em nossa Cidade.

Então, nós queremos, agora, no encerramento, agradecer a presença aqui de tantas figuras notáveis da cultura, da literatura, enfim, da dramaturgia da nossa Cidade.

Encerrando, queria agradecer, em nome da Câmara Municipal, a presença de todos os senhores e senhoras e, em especial, do nosso homenageado, o dramaturgo Ivo Bender, bem como das figuras, aqui, que integram a Mesa de direção dos trabalhos. E, com estas palavras, nós estamos encerrando. Neste momento convidamos todos os presentes a ouvirmos o Hino Rio-Grandense.

 

(Ouve-se o Hino Rio-Grandense.)

 

Agradecemos a presença de todos e damos por encerrada a presente Sessão Solene.

 

(Encerra-se a Sessão às 16h15min.)

 

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